domingo, 7 de outubro de 2012

A pedidos... nova publicação com outro belo texto do poeta lá do CAPS Conviver, Gilnei. Um abraço, Bianca.

GAROTO DE RUA - por Gilnei Pereira Cruz


Aí estou nesse lugar quente
Não sei quem sou, nem pra onde vou
Passou-se semanas
Agora meses
Aqui estou com um ano
Não vejo nada, mas sou feliz e tudo passa
Alguns anos se passam... aqui estou com cinco anos
Não sei quem são meus pais nem quem sou eu
Mas a tristeza eu já conheço
Neste lugar infeliz e frio
Outros garotos à minha volta, tristes como eu
Agora tenho 10 anos
Cheiro cola e faço pequenos furtos. Sou um garoto de rua
Todos a minha volta e eu tão só
Até sou feliz numa cheirada ou outra
Não tenho passado, nem vejo futuro
Só tristeza à minha volta
Agora tenho 15 anos
Fujo da polícia, já não são furtos pequenos
Me conformo com minha sorte, durmo em vários lugares, sonho que sou feliz
Até vi minha mãe em um sonho
Acordei e já tinha 20 anos... aqui nesta prisão
A sociedade me julga e me condena
Mas não sabe que eu nem sei de onde vim
Só sei que estou aqui tão só
Queria ser feliz, mas como se a própria natureza me negou meus pais?
Agora passou-se vários anos
Já tenho setenta
Um velho de rua... passo frio e sofro. Sou mendigo.
Sou feliz quando durmo
Sonho com minha mãe que nunca vi
Já me sinto cansado demais
Espero no próximo sonho, não acordar...